Classicismo


Introdução:


No período compreendido entre 1450 e 1600 surgiu na Europa, principalmente na Itália, um movimento chamado Renascimento, que foi o responsável por uma radical transformação do homem no que diz respeito à religião, à filosofia, ao amor, à política, enfim, à maneira de encarar a vida.

Foi em Florença, terra natal de Dante e Giotto, que um grupo de artistas se dispôs a criar uma nova arte e a romper com as idéias do passado. Florença é considerada, portanto, o berço do Renascimento. O Renascimento tem três significados que o definem: a antigüidade, a humanidade e a universalidade.
A antigüidade redescobriu as obras literárias, históricas e filosóficas da civilização greco-romana, tendo o Renascimento traduzido, restaurado e explicado grande parte de obras literárias da Antigüidade Clássica. Mas afinal, renascer o quê? Renascer o modo de pensar, o modelo político, as formas estéticas, a mitologia, a maneira de viver. Renasceram as normas ditadas por Aristóteles e Horácio; imitou-se Virgílio. Buscou-se o belo na nobreza, que ditava o conceito de beleza. Julgavam os renascentistas terem os gregos e romanos atingido o auge da civilização – era importante restaurá-la. A humanidade valorizou o homem, transformando-o em centro do universo. A estátua de David, de Michelangelo, não seria possível na Idade Média – gigantesco, musculoso e nu, retratando a grandeza do homem renascentista. A universalidade incorporou o mar entre os elementos medievais, que só conheciam a terra e o céu. O Renascimento descobriu o mar e lhe deu primazia. O homem renascentista desbravou os oceanos, lutou com as tempestades em alto-mar, conquistou “mares nunca dantes navegados” e voltou ao ponto de partida.
O classicismo foi, no plano literário, o retrato vivo da Renascença. Os escritores clássicos do Renascimento seguiram de perto a literatura da Antigüidade, cujos modelos foram imitados ou adaptados à realidade da época. Como conseqüência, suas obras revelaram, na estrutura formal, a rigidez das normas de composição de acordo com os padrões consagrados pela tradição greco-latina. Em seu conteúdo, mostravam o paganismo, o ideal platônico de amor e outras marcas específicas da tradição antiga. As notas medievais quinhentistas contêm um impulso que se tornou presente, explicitamente ou não, ao longo de toda a literatura portuguesa, cruzando os séculos.
Seus lirismos tradicionais, caracterizados por ser antimetafísico, popular, sentimental e individualista, irá dialogar com as novas modas e sobreviverá. A própria força da terra portuguesa, chamando os escritores para o seu convívio, explica a permanência desse remoto lirismo através dos séculos.A definição do novo ideário estético em Portugal deu-se em 1527, com o regresso de Sá de Miranda da Itália, trazendo uma valiosa bagagem doutrinária. Sua influência foi decisiva na produção e promoção do novo gosto literário.


Contexto Histórico:


No início do século XIV, inúmeros fatores conjugados e articulados criaram as condições para o início da nova arte. No plano econômico, o renascimento comercial reativou o intercâmbio cultural entre o Ocidente e o Oriente. No plano social, a urbanização gerou as condições de uma nova cultura, sendo as cidades o pólo de irradiação do Renascimento. A ascensão social e econômica da burguesia propiciou apoio e financiamento ao desenvolvimento cultural.
O aperfeiçoamento da imprensa por Gutenberg (Johann Gensfleish), teve especial importância no século XVI, embora não seja considerado um fator direto do Renascimento, pois seus efeitos só começaram a ser efetivamente sentidos no último século do movimento renascentista.Em 1455, foi publicado o primeiro livro europeu impresso com tipos móveis.
A obra, que era uma tradução latina da Bíblia, levou mais de dois anos para ficar pronta e ficou conhecida como a Bíblia de Gutenberg, com uma tiragem de quase duzentos exemplares.Em Portugal, verificou-se o fim do monopólio do clero em relação à cultura. D. João II, que reinou de 1521 a 1557, criou a Universidade de Coimbra e o Colégio das Artes, também em Coimbra, onde introduziu o ensino do latim, do grego, da matemática, da lógica e da filosofia.Os filhos dos burgueses começaram a freqüentar as universidades, tomando contato com uma cultura desligada dos velhos conceitos medievais. A nova realidade econômica gerada pela decadência do feudalismo e o fortalecimento da burguesia exigiram uma nova cultura, mais liberal, antropocêntrica e identificada com o mercantilismo.
O momento histórico vivido pela dinastia de Avis, com a centralização do poder, as Grandes Navegações e o comércio, foi propício aos novos conceitos veiculados na Itália.
“Os portugueses dos séculos XV e XVI provaram pela experiência e pela dedução científica: que o oceano Atlântico era navegável e estava livre de monstros; que o mundo equatorial era habitável e habitado; que era possível navegar sistematicamente longe da costa e conseguir perfeita orientação pelo Sol e pelas estrelas; que a África tinha uma ponta meridional e que existia um caminho marítimo para a Índia; que as pseudo-Índias descobertas por Colombo, eram, na realidade, um novo continente separando a Europa da Ásia oriental e que as três Américas formavam um bloco territorial contínuo; que a América do Sul tinha um ponto meridional como a África e que existia um outro caminho marítimo para a Índia por ocidente; que os três oceanos comunicavam entre si; que a Terra era redonda e circunavegável”.


Características:

Busca do homem universal –

Passaram o mundo, o homem e a vida a serem vistos sob o prisma da razão. O homem renascentista procurou entender a harmonia do universo e suas noções de Beleza, Bem e Verdade, sempre baseando seus conceitos no equilíbrio entre a razão e a emoção.
Estavam longe de aceitar a "arte pela arte", ao modo parnasiano do século XIX, mas apresentavam um alto objetivo ético: o do aperfeiçoamento do homem na contemplação das paixões humanas postas em arte - a catarse grega.

Valores greco-latinos –

Os renascentistas adotaram a mitologia pagã, própria dos antigos, recorrendo a entidades mitológicas para pedir inspiração, simbolizar emoções e exemplificar comportamentos. Consideravam que os antigos haviam atingido a perfeição formal, desejando os artistas da Renascença reproduzi-la e perpetuá-la.

Novas medidas e formatos –

Surgiram novas formas de composição, como o soneto, o verso decassílabo e a oitava rima, que foram introduzidas em Portugal por Sá de Miranda.

Consciência da Nação –

No Renascimento português, além da consciência do homem como um ser universal, surgiu uma forte consciência de Nação, devido às grandes navegações, que transformaram o povo em heróico.



Autores:


Além de Camões e Sá de Miranda, sem sombra de dúvida os maiores expoentes do classicismo português, outros poetas renascentistas foram incluídos no Cancioneiro Geral, organizado por Garcia de Resende: Antonio Ferreira, Bernardim Ribeiro.

Obra Importante: